Nov 14, 2025

O aplicativo Speak começou sua trajetória em Seul, na Coreia do Sul, e para entrar no mercado dos EUA, precisará enfrentar o Duolingo Acessibilidade ◐ Em uma viagem a Seul em 2018, Connor Zwick passou por prédios que pareciam ser apenas arranha-céus comuns. Logo descobriu que esses edifícios estavam com salas de aula dedicadas ao ensino de inglês. Anúncios sobre essas tutorias estavam espalhados por cima de táxis e painéis publicitários. Foi quando ele teve uma ideia: o maior mercado para seu aplicativo de aprendizado de idiomas, o Speak, estava ali, e não no Vale do Silício, onde sua sede estava localizada. “O aprendizado de inglês lá era quase uma obsessão”, lembra ele. “Havia uma demanda tão grande.” Leia também Porém, o treinamento de idiomas oferecido muitas vezes não era eficaz. Os alunos passavam horas aprendendo o básico com livros didáticos e vídeos pré-gravados, supervisionados por instrutores que não tinham fluência. Os métodos antiquados enfatizavam o aprendizado de gramática e vocabulário em detrimento da prática de falar em voz alta. “Tudo era tão acadêmico e havia esse medo de cometer erros”, afirma Zwick. Para Zwick, o agitado centro de Seul e sua demanda constante por aulas de inglês foram tanto uma inspiração quanto uma oportunidade para construir um tutor de IA real que pudesse substituir o tutor humano e oferecer um espaço sem julgamentos para que os alunos cometessem e corrigissem erros enquanto falam outro idioma. A promessa era clara: “Ninguém vai saber se você disser algo embaraçoso”, diz ele. Hoje, o Speak possui um coach de IA baseado em voz que simula cenários como fazer pedidos em um restaurante, pedir direções para um ponto turístico ou bater um papo com um colega de classe, ajudando os usuários a praticarem um novo idioma em situações reais. Expandindo Construído principalmente com os modelos da OpenAI, o objetivo é incentivar os usuários a praticar a pronúncia de palavras e frases mais comuns em voz alta. Os alunos também podem criar seus próprios cenários do zero, interagindo com o software de IA. Recursos como tabelas de classificação e “streaks” (sequências de uso diário) ajudam na consistência. E não é apenas para quem aprende inglês. O Speak oferece planos de aula para outros cinco idiomas: coreano, espanhol, japonês, francês e italiano. Atualmente, 15 milhões de pessoas baixaram o aplicativo para praticar conversação com seu tutor interativo de IA e se tornarem mais fluentes e confiantes ao falar em um idioma estrangeiro. Esse crescimento ajudou a startup, que hoje vale US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões), a alcançar um marco: a empresa anunciou que tem mais de US$ 100 milhões (R$ 530 milhões) em receita anualizada. Isso se deve em grande parte ao sucesso de seu modelo de negócios com consumidores. Os usuários começam gratuitamente no aplicativo e pagam entre US$ 80 e US$ 200 (R$ 424 e R$ 1.060) para terem acesso a mais conteúdo. No entanto, o Speak também começou a se expandir para o setor corporativo em 2024, quando alguns de seus consumidores pediram para que os empregadores cobrissem os custos. Agora, em torno de 500 empresas, incluindo KPMG e HD Hyundai, oferecem assinaturas do Speak para seus funcionários, principalmente na Coreia do Sul. Após conquistar mercado em outros países como Japão e Taiwan, o Speak iniciou uma investida no mercado dos EUA. Concorrência Mesmo com essa expansão, ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar seu maior rival . A receita do Speak é muito menor que a do Duolingo, que registrou US$ 724 milhões (R$ 3,8 bilhões) em vendas no ano passado e projeta que seus negócios crescerão para US$ 1,02 bilhão (R$ 5,4 bilhões) até o final deste ano. O Duolingo também está apostando pesado em IA e agora oferece chamadas de vídeo de aprendizado de idiomas casuais com sua personagem de IA, Lily, cumprindo a missão do CEO bilionário Luis Von Ahn de criar um tutor automatizado que possa facilmente e de forma acessível ensinar qualquer pessoa a falar um idioma estrangeiro. Zwick está ciente do domínio do Duolingo, especialmente nos EUA, mas acredita que o Speak é diferenciado. O Duolingo é voltado para o aprimoramento da gramática e vocabulário, argumenta ele. O foco do Speak está na fluência conversacional, construindo memória muscular para a língua e aprimorando a pronúncia para que as pessoas se sintam à vontade para falar em voz alta. “Está tudo no nome”, afirma Zwick. Escolhas do editor “As pessoas falam de cinco a dez vezes mais no Speak do que em outros aplicativos de aprendizado de idiomas.” E Zwick não tem medo de como essas diferenças se traduzem nas experiências dos usuários ao usar o Duolingo em comparação com o Speak. “Os jogos móveis que também ensinam idiomas são, no final das contas, maneiras de se sentir melhor sobre usar o celular quando você está entediado. É uma alternativa mais saudável para o Candy Crush, se você quiser”, disse ele à Forbes. “E eu acho que o que estamos tentando fazer aqui… é algo um pouco mais sério.” Investimento pesado O Speak atraiu a atenção de grandes investidores de venture capital, como Khosla Ventures, Accel e OpenAI Startup Fund, arrecadando US$ 160 milhões (R$ 848 milhões) em capital total. Mas levantar fundos em 2016, quando o Speak foi fundado, não foi fácil. Poucas pessoas se importavam com aprendizado de idiomas ou IA, e alguns investidores até perguntaram aos fundadores se o aplicativo era uma forma secreta de coletar e vender dados, segundo Zwick. Mas sua percepção sobre a promessa da Coreia do Sul se mostrou correta. Ben Quazzo, sócio da Accel e que liderou a rodada de US$ 78 milhões (R$ 412 milhões) em Series C do Speak em dezembro passado, afirmou que a decisão do app de focar no mercado sul-coreano foi intencional — um “campo de testes” para testar o produto em um dos mercados de aprendizado de idiomas mais competitivos. “Não estamos vendendo um aplicativo de dopamina ou isca de engajamento”, disse Quazzo. “Estamos vendendo uma jornada educacional para levá-lo até o resultado final.” Zwick conheceu seu cofundador Andrew Hsu através da Thiel Fellowship em 2012. Ele havia acabado de sair de Harvard para o que ele chama de “sabático de aprendizado profundo” e estava construindo sua primeira startup, uma ferramenta de estudo e aplicativo móvel chamado Flashcards+, que foi posteriormente adquirida pela empresa de edtech Chegg. Em Hsu, ele encontrou um espírito semelhante, alguém que havia abandonado seu doutorado em Stanford em 2011 para se juntar à Fellowship. Fascinados por IA, os dois se infiltraram em aulas da Universidade da Califórnia, Berkeley e Stanford, aprimorando conhecimentos. Eles chegaram até a assistir às palestras de John Schulman, cofundador da OpenAI, sem serem pegos. Hoje, a OpenAI é fundamental para o crescimento da empresa. À medida que os modelos de IA continuam a melhorar, o aplicativo do Speak também evolui. Eles utilizam esses modelos para atualizar automaticamente os planos de aula com base no desempenho dos usuários, podendo realizar tarefas como correção de sotaque, algo que não era possível quando o Speak foi fundado. Sven Strohband, parceiro e diretor executivo da Khosla Ventures, que foi um dos primeiros investidores, lembra das versões iniciais do Speak, de 2017, que ainda não conseguiam realizar conversas completas com IA, mas já entendiam corretamente sotaques estrangeiros. “Eles eram IA-first antes de ser realmente legal ser IA-first”, disse Strohband.