Oct 7, 2025

Mas uma revolução silenciosa está em andamento e o protagonista vem do reino dos fungos . O micélio, estrutura que sustenta o crescimento fúngico, está sendo transformado em micoproteínas , uma alternativa rica em nutrientes, sustentável e com textura semelhante à carne Estudos apontam que o mercado global de micoproteínas pode ultrapassar US$ 32 bilhões até 2032 , impulsionado por avanços em biotecnologia e fermentação de precisão. Fungos: as novas fábricas de alimentos Pesquisas desenvolvidas na Unicamp mostram que fungos e leveduras já estão sendo usados como “f ábricas celulares ” capazes de produzir proteínas com o mesmo perfil das encontradas em alimentos de origem animal. Segundo o pesquisador André Damasio, essa tecnologia consome menos água e terra e emite menos gases do efeito estufa do que a pecuária tradicional, tornando-se uma alternativa concreta à produção intensiva de carne. Foto: Divulgação (shimeji sendo produzido em arroz parboilizado para consumo) / Embrapa Empresas como Meati, Quorn e Enough já produzem micoproteínas em escala industrial, usando processos de fermentação controlada para criar produtos que imitam textura e sabor de carnes e derivados. Vantagens ambientais e nutricionais O cultivo de micélio tem uma pegada de carbono reduzida e aproveita resíduos agrícolas como substrato, gerando um modelo mais circular e eficiente. Além de ser uma boa fonte de aminoácidos essenciais, zinco e selênio, as micoproteínas possuem até 48% de proteína e cerca de 35% de fibras, o que ajuda na saciedade, controle do colesterol e regulação da glicemia. No entanto, como ainda não contém ferro nem vitamina B12, os especialistas recomendam que o consumo seja combinado com outros alimentos. Estudos também investigam possíveis reações alérgicas e a digestibilidade das micoproteínas, especialmente em produtos da marca Quorn. Desafios científicos e regulatórios Apesar do entusiasmo, pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente alertam para a necessidade de padronização nutricional e regras mais claras de segurança alimentar. Faltam estudos clínicos sobre a biodisponibilidade das proteínas e sobre os efeitos de longo prazo no organismo humano. Também há barreiras tecnológicas, como a baixa solubilidade do micélio, que dificulta o uso em alimentos líquidos. Mesmo assim, empresas como a Nature's Fynd já lançaram iogurtes e queijos à base de micélio, explorando novas possibilidades. Do laboratório à mesa A produção de micoproteínas tem atraído mais investimentos que a carne cultivada, graças à tecnologia mais simples e escalável. Nos últimos cinco anos, o setor de fermentação fúngica movimentou € 628 milhões, superando os € 459 milhões da carne cultivada. Segundo a pesquisadora Paula Cunha, também da Unicamp, os fungos não devem substituir completamente a carne, mas complementar o suprimento global de proteínas, tornando o sistema alimentar mais resiliente e sustentável. Se os avanços continuarem, é possível que, em poucos anos, os fungos deixem de ser apenas um ingrediente da floresta e se tornem a base da alimentação moderna. Fonte: Embrapa