Oct 31, 2025

No comércio eletrônico, quanto mais rápido, melhor. A regra vale para grandes e pequenos operadores. O desafio se torna ainda maior diante do volume de transações. Em 2024, foram processados 414,86 milhões de pedidos feitos por 91,31 milhões de compradores, que geraram vendas da ordem de R$ 204,27 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico. A expectativa para 2025 é que esse volume alcance 435,6 milhões de pedidos. Nesse cenário, pequenas e médias empresas têm não só aumentado sua participação nas vendas on-line como também vêm impulsionando um movimento de descentralização dos operadores logísticos. De acordo com a segunda edição do Mapa da Logística, realizado pela Loggi, especializada em logística de e-commerce, enquanto as grandes marcas concentram 65% da origem dos pedidos no Estado de São Paulo, nas PMEs o Estado é origem de apenas 40% do volume processado. Santa Catarina, Minas Gerais e Paraná são origem de, respectivamente, 16%, 10% e 9% dos pedidos. Nas grandes marcas a participação desses Estados no mapa de origem é bem menor: respectivamente, 7%, 5% e 3%. “Em 2024, a participação das pequenas e médias empresas nas vendas on-line cresceu 150%, abrindo oportunidades para adoção de novas soluções de envio”, afirma Viviane Sales, vice-presidente de clientes e receitas da Loggi. De acordo com o estudo, 30% dos envios das PMEs são feitos por grade fixa, isto é, com periodicidade definida para coleta de pacotes, enquanto 40% usam coleta pulverizada com variação de dia e hora e 30% operam via pontos de recebimento de pacotes (Pick up and Drop off Points – PUDOs), o que permite levar o pacote até um lugar credenciado, com economia de custos de até 40%. Com dez centros de distribuição no sistema cross docking (que elimina a necessidade de armazenamento e agiliza a entrega de produtos) e 30 agências, a Loggi tem cerca de 1.600 PUDOs. A estrutura possibilita o atendimento de 22 mil clientes, englobando 90% dos maiores e-commerces do país. “Para aumentar a capilaridade das PMEs, firmamos a primeira parceria da Uber com uma empresa de logística no mundo”, diz a executiva. Batizado Envio Fácil, o serviço pode ser acionado no próprio app da Uber para envios para todo o país. A Loggi coleta os itens em nove cidades. Segundo a empresa, o serviço tem potencial para responder por até 10% da receita da Loggi até o fim de 2026. Na visão de Thammer Manzoni, diretor do Nuvem Evio/Madaê Brasil, o desafio de operar logística fracionada está em entregar competitividade e equidade aos pequenos e médios operadores. “É preciso criar capilaridade fora dos principais centros para que os pequenos players tenham condições de jogar nas mesmas condições dos marketplaces no que diz respeito a prazos e preços”, afirma o executivo. “Não se entrega competitividade sem oferecer um ecossistema de logística robusto, boas parcerias locais e ferramentas que ajudem os varejistas a confiar no modelo de logística ofertado.” Com 170 mil lojas abrigadas na plataforma, a Nuvemshop movimentou vendas de R$ 4,7 bilhões no ano passado, R$ 1 bilhão dos quais foram entregues pela Nuvem Envio, divisão de logística que conta com mais de 1.500 clientes para coleta, 30 transportadoras no sistema e operação cross docking própria em São Paulo e Minas Gerais. “A expectativa para 2025 é crescer entre 35% e 50%”, diz Manzoni. De janeiro a setembro foram dez milhões de envios. Em 2024 foram 9,5 milhões. Segundo ele, boa parte do crescimento está atrelado à expansão das áreas de cross docking e à integração com a Loggi, com pontos espalhados por todo o país. Quem também optou pela criação de um braço de logística para atender o próprio marketplace e os de terceiros foi o Magalu. O diferencial fica por conta das entregas pesadas, que incluem a linha branca, tendo as mais de 1.200 lojas do Magazine Luiza como hubs de entrega. A estrutura ainda conta com 21 centros de distribuição em 16 Estados, 175 bases e 350 parceiros. “Em 2023, transformamos a área de embarcador no operador logístico Magalog”, diz Márcio Chammas, diretor de logística. “O que era um centro de despesas passou a ser uma fonte de geração de receita.” Pelo Magalog passam 90% das entregas do grupo e de 90 empresas do mercado, entre elas Renner, Dafit e Zara. Na avaliação de André Armidoro, head de planejamento e inovação da Tragetta, divisão de carga fracionada do grupo Fensa, as demandas impulsionadas pelo e-commerce têm aumentado fora do eixo Sul-Sudeste, abrindo oportunidade para que as empresas de logística se estruturem em regiões mais carentes de operações, como Norte e Nordeste. Com dois milhões de entregas registradas no primeiro semestre, a empresa focará na expansão de bases existentes. “Até 2026, Manaus terá 50% mais capacidade, Fortaleza crescerá 20% e o Espírito Santo ganhará protagonismo”, diz o executivo. “Temos 48 centros de distribuição cross docking espalhados por todos os Estados, o que nos garante capilaridade e flexibilidade. Isso é essencial para operar com cargas fracionadas. Quando não entregamos diretamente, trabalhamos com parceiros locais, indispensáveis em regiões ribeirinhas da Amazônia, por exemplo.” O e-commerce, que atende 15 indústrias das áreas de tecnologia, automotiva e têxtil, responde por 12% das entregas da Tragetta. Segundo Márcio Neves, diretor de operações da Amazon Brasil, quanto mais rápido o prazo de entrega fora do eixo Rio-São Paulo, maior o número de vendedores entrantes na plataforma. “Na Amazônia, quando reduzimos as entregas de 30 para cinco dias, o volume de PME se multiplicou”, revela. “Em 2024, a base de vendedores do Amazon Marketplace na região Norte cresceu 55%, enquanto no Nordeste e no Centro-Oeste o crescimento foi de 33%.” A Amazon tem 760 parceiros de entrega de última milha – até dezembro serão 1.900 –, 200 polos logísticos operados com tecnologia própria, sendo 140 deles abertos nos últimos 18 meses. “Na última década, investimos R$ 55,6 bilhões no Brasil, dos quais R$ 3,31 bilhões no Nordeste, R$ 31,35 milhões na região Norte e R$ 547,2 milhões no Centro-Oeste”, ressalta Neves. A logística descentralizada é uma das estratégias da companhia. “Para estar próximo do cliente é preciso combinar demanda e posicionamento do produto. Sem essa combinação fica difícil fazer entregas rápidas de maneira competitiva”, afirma. É também o que move a Shopee. A gigante do e-commerce inaugurou em outubro, em São Bernardo do Campo (SP), o 14º centro de distribuição da empresa no país, com capacidade para processar cerca de 3,8 milhões de pedidos por dia. Do total, 12 centros de distribuição operam por cross docking e dois no modelo fulfillment, sendo quatro fora do eixo Sul-Sudeste. “Temos mais de três mil agências, 250 pontos regionais e 150 hubs, alguns inaugurados neste ano – mais de 90% de nossas entregas são locais”, afirma Rafael Flores, head de expansão de logística da Shopee. “Com uma estrutura mais robusta, o tempo médio de entrega foi reduzido em mais de dois dias em todo o país no segundo trimestre de 2025.” Com o objetivo de diminuir em 60% o tempo médio das encomendas, a Shopee começou a operar no primeiro semestre a rota aérea São Paulo-Manaus com voos seis dias por semana. “Os investimentos em logística confirmam o nosso compromisso com a operação no país”, diz Flores. “O Brasil é um dos principais mercados da Shopee, que conta com mais de três milhões de vendedores brasileiros na plataforma, e ainda tem muito potencial para crescer.”